

O Museu da Abolição foi inaugurado oficialmente em 13 de maio de 1983, com a exposição de curta duração intitulada “O Processo Abolicionista Através dos Textos Oficiais”. A maior parte do acervo presente nesta exposição pertencia a outras instituições culturais e permaneceu na instituição até 1990, ano do primeiro fechamento do Museu.
O acervo adquirido nesse período (1983-1990), atualmente denominado de coleção inicial, seguia as linhas dessa exposição, priorizando tão somente o olhar senhorial na seleção dos objetos, nos recortes históricos e no discurso estabelecido, excluindo os grupos sociais diretamente afetados pelo processo abolicionista e, primordialmente, a sua participação e visão desse processo.
O Museu passou por um segundo fechamento em 2005, desta vez por iniciativa da própria administração. Esse momento, em alguma medida, representou para o museu a chance de se “reinventar” e refletir sobre a temática da Abolição e sobre as expectativas da comunidade afrodescendente em relação à instituição, estabelecendo para si um compromisso com a preservação, pesquisa, divulgação, valorização e difusão da memória, dos valores históricos, artísticos e culturais, e do patrimônio material e imaterial dos afrodescendentes, além de constituir parcerias com instituições públicas e privadas e, sobretudo, com os movimentos sociais.
Com isso, o Museu visou evidenciar novas perspectivas e olhares sobre a população negra e o seu processo emancipatório, a fim de firmar-se como um centro de referência da cultura afro-brasileira. Isso foi possível, a partir de 2010, com a saída do IPHAN e a abertura da Exposição em Processo, marco na consolidação das expectativas do museu.
Compreendendo que este novo discurso não podia ser representado pela coleção inicial, se fazia necessária a obtenção de novos objetos mais ressonantes com as novas expectativas e demandas. Dessa forma, as obras recebidas entre 2012 e 2020 foram embasadas numa curadoria estabelecida a partir da missão e dos objetivos do museu, procedimento a ser adotado até que seja publicada a Política de Aquisição e Descarte de Acervos, formulada em 2012.
As formas mais recorrentes de aquisição de acervo no MAB durante esse período foram por meio de transferência – em cumprimento a Lei 12.840/2013: acervo constituído por cinco (05) pinturas de diferentes técnicas, materiais e autores; um (01) par de esculturas em madeira com partes cobertas por gesso e pintura policromada: Blackamoors; e, cento e nove (109) objetos culturais africanos. Por meio de doação, o MAB recebeu a escultura “Samburu Dance I” da artista plástica holandesa Marianne Houtkamp, através de Acordo de Cooperação estabelecido entre o Ibram e a Receita Federal do Brasil, em 2012, o qual deu origem à referida Lei; destaque também para um conjunto de treze (13) pinturas de artistas brasileiros e internacionais, focados na temática negra, recebidas por doação do Itaú Cultural.
O acervo museológico do MAB foi classificado utilizando como referência o Thesauros para acervos museológicos, 1986, tendo como principais classes: Artes Visuais; Objetos pecuniários; Interiores; Trabalho; Insígnia; Objetos Cerimoniais; Comunicação; Objetos pessoais; Castigo/ Penitência.
Tipologicamente podem ser classificados como bens móveis, históricos, artísticos, etnológicos e iconográficos.
Coleções
Coleção inicial
Os objetos deste acervo, composto por 130 peças, foram adquiridos por doação ou comprados em antiquários em Minas Gerais e estão relacionados ao ambiente da senzala: objetos de castigo, instrumentos utilizados no trabalho agrícola, na mineração e nas manifestações religiosas do candomblé.
Outros objetos remetem à casa grande: objetos de decoração e utensílios domésticos, imagens de santos católicos, alguns móveis; os bustos dos abolicionistas André Rebouças e João Alfredo, assim como documentos oficiais que deram origem ao processo abolicionista, tais como medalhas e moedas criadas em comemoração à abolição e à temática da escravidão.
Coleção Fotográfica
Coleção de fotografias em meio físico e digital, doadas pelo seu autor Diego Di Niglio, intitulada “Instantâneas da África”, compreende uma série de fotos coloridas e P&B produzidas entre os anos de 2002 e 2007, no continente africano, durante as viagens do fotógrafo por Moçambique, Malaui, Burkina Faso, Senegal, Níger, Chade, Camarões, Togo, Benin e Gâmbia, retratando as pessoas e seu cotidiano. A coleção inclui dois ensaios sobre os pastores nômades de Chad e sobre a Ilha do Gore.
Coleção Receita Federal
Esta coleção reúne os bens recebidos pelo Museu da Abolição, por transferência da Receita Federal do Brasil – RFB que, amparada na lei 12.840/2013, tem destinado bens de valor cultural, artístico ou histórico aos museus públicos federais. Entre 2012 e 2018, o MAB recebeu 119 objetos destinados à instituição, o que possibilitou não só a ampliação de seu acervo, mas sobretudo a formação de novas coleções.
Trata-se de pinturas e esculturas de autores nacionais e internacionais e objetos de origem africana, constituídos de diversos tipos de suporte: madeira, tecido, miçangas, metal, vidro, pelos de animais, etc, representativos de mais de 20 grupos étnicos daquele continente, com autoria não identificada. Esta coleção anuncia novas perspectivas para o MAB e fortalece sua missão e visão institucionais, atendendo às demandas dos seus públicos e da sociedade pernambucana em geral.